O PROJETO
A ideia de todo o projeto retorna a um ponto de partida de análise sobre o Sertão. Com o pensar do sertão como espaço não apenas físico e também fugindo de seus preceitos já estabelecidos no imaginário geral, alcançamos os conceitos de gênese, lugar de reflexão e esperança. Tais qualidades não são associadas normalmente ao conceito de Sertão, mas seus antônimos sim.
Em seguida, utilizou-se a inspiração dos três conceitos para elaboração do projeto, especificamente para uma instalação de arte que fosse interativa ao público. Como resgatar gênese enquanto cria um lugar de reflexão e esperança?
Talvez o assunto mais instantâneo para forçar uma reflexão ao ser humano é o falar sobre a morte, talvez por ser nossa única certeza: nossa mortalidade é um fato. É geralmente um ponto de início para espiral de pensamentos que assombram as noites em claro ou momentos solitários. E é entre esses momentos que também pensamos sobre nosso futuro e nosso passado, assim como nosso legado. E quando somamos todas as nossas dúvidas, talvez a maior resposta venha a ser uma pergunta: “Como Gostaria de Ser Lembrado?”
A indagação “Como Gostaria de Ser Lembrado” traz consigo uma concepção de futuro e passado, de expectativa e realidade. Parte da mesma raiz de uma criança questionada “O que você quer ser quando crescer?” e também de alguém a beira de suas últimas glórias que tenta entender o que irão lembrar de sua pessoa. Existe também a reflexão sobre o quão subjetivo é a percepção que apresentamos ao mundo, onde sempre estaremos sujeitos aos olhares do exterior para definirem o que acham, independente de nossos esforços em definir algo. Somos tão subjetivos quanto qualquer projeto de arte a ser entendido sob a visão de cada espectador.
Carregando o espírito de tentar demonstrar ao mundo; exemplificar; anunciar; expressar: o que vale mais do que mil palavras? Imagem.
Por meio da imagem, nossos visitantes teriam a oportunidade de expressarem seu interior. Como ajudá-los? Servindo os mais diversos objetos do cotidiano rotineiro que representem, de alguma maneira, o que é importante para cada um, o que carrega um significado e o que é almejado enquanto futuro. A imagem, fotografia, que hoje é quase banalizada sem perceberem seus princípios e bases. Vamos valorizar o processo de criação de imagem, feito a torto e direito de maneira automática. Será então um local cheio de objetos onde irá rolar uma foto.
Mesmo com a definição de um conceito, ainda falta a ideia de um espaço físico a ser responsável por hospedar nossa reflexão.
Surge então a Câmara Escura.
A Câmara Escura é parte da gênese da fotografia. Foi o processo antecessor ao surgimento da película e da própria fotografia, sendo considerada então um percursor de uma das sete artes do ser humano. A Câmara Escura funciona com a ideia de isolar um ambiente de quase toda entrada de luz, permitindo apenas um feixe que por sua vez carrega uma projeção do mundo exterior ao interior quando devidamente calculado sobre questões físicas adequadas. O furo por fim tem um propósito realmente próximo de um projetor. Ainda dentro de nossas antíteses e paradoxos, consolida-se a ideia de uma “meta-câmera”: ao levar um dispositivo atual (câmera fotográfica digital) para o interior de um dispositivo ancestral (a câmara escura) onde ambos estarão a complementar-se como experiência proposta.
O primeiro desafio estabelecido foi o transformar de uma sala de aula em uma câmara escura em escala humana. Uma pesquisa estabeleceu os parâmetros mínimos necessários: vedar a entrada de luz exterior das janelas com papel alumínio e testar um único furo com as possibilidades de entrada de luz para projeção nas paredes.
Para o executar da “meta-câmera” e ser compatível de fotografar no interior da Câmara, era necessária uma adaptação as configurações gerais da câmera digital. Foi por meio da técnica de “Longa Exposição” que captamos alguma clareza em meio a escuridão. A Longa Exposição é sobre manter o sensor da câmera digital exposto por mais tempo, com uma grande abertura do diafragma para permitir maior entrada de luz possível (mesmo na escuridão) tudo auxiliado com um ISO alto suficiente para manter a sensibilidade do sensor. Tal experiência replica o que foram as primeiras fotografias a serem tiradas, as mesmas que demoravam até horas para serem captadas. Em um momento atual em que estamos sempre ocupados e acostumados com a instantaneidade de uma fotografia digital, permanecer imóvel por trinta segundos nos força a entrar em um estado de reflexão imergido sob nosso consciente e subconsciente.
Após o registro fotográfico que por sua vez pode ter resultados curiosos em meio as misturas de objetos, o visitante é instruído a realizar um depoimento em áudio para poder eternizar sua projeção de maneira mais certeira possível. A foto é impressa dentro da sala e encerra-se a experiência ao anexar a foto em um painel feito com a lousa da sala de aula.
Todo esse material estende-se então para a realização virtual de “Epitáfio” com nosso website. Com Epitáfio Virtual, procuramos um espaço onde podemos todos coexistir ao mesmo tempo em nosso universo que envolve âmbito da arte, história, ciência e filosofia.
Toda a experiência planejada pela instalação física “Epitáfio” era sobre tomar seu tempo e adentrar um congelamento do mundo. Um ambiente sem limitações temporais para que cada um tivesse sua oportunidade de encontrar um pouco de seu “EU” mais interior: o SEU escolher dos objetos, a SUA fotografia em longa exposição e o também o apreciar das fotos de outros visitantes que participaram da instalação antes de você. Nosso site também tenta promover a mesma experiência imersiva para que cada um tome seu tempo a entender o processo e se sentir inspirado o suficiente para tentar imaginar como gostaria de ser lembrado (e compartilhar o resultado conosco).
Mesa














